TV Saudade: O salto dos anos 2000 - Parte 2
Tamanha revolução na TV não caberia em um texto só, por isso, segue a segunda parte do salto produtivo das TVs abertas e fechadas do mundo todo. Sem mais delongas...
A ilha:
O mundo parou para assistir as histórias de um grupo de sobreviventes que caíram em uma ilha, aparentemente deserta no meio do Oceano Pacífico, cada um dos sobreviventes tem um passado misterioso, assim como o ambiente inóspito onde estão agora, essa era “basicamente” a história de Lost (ABC, 2004-2010) que rapidamente conquistou audiência, um público carente de mistério, uma das mais brilhantes criações de J.J, Abrams. O mosaico de personagens mostrava um médico com senso de justiça absurdo, que chegava irritar, uma fugitiva, um rockstar viciado em drogas, um milionário, que acabara de ganhar milhões na loteria, um ex-oficial iraquiano, a filha de um mafioso e outros muitos personagens que nos levaram a loucura ao longo de seis longas temporadas, com incontáveis mistérios e alguns deles sem qualquer resolução, o que acabou frustrando alguns expectadores, inclusive eu.
Curiosidades:
O grande elenco e as filmagens no Havaí tornaram a série uma das mais caras da televisão.
O ator Josh Holloway (Sawyer) foi gravar os episódios e tentou esconder seu sotaque sulista, foi quando o criador J.J Abrams disse que ele havia sido contratado justamente por conta de seu sotaque.
O episódio “Pilot” (primeiro episódio) custou cerca de 12 milhões de dólares, valor maior que a produção de algumas temporadas inteiras de outras séries.
COMÉDIA EM FAMILIA
O novo milênio mostrou, ao menos na televisão que, conviver em família, era uma das tarefas mais difíceis da vida. Dois Homens e Meio / Two and a Half Man (CBS, 2003-2015) foi uma das muitas séries que mostraram isso. Alan Harper (Jon Cryer) é um massagista terapêutico que é abandonado por sua mulher, agora ex-esposa e vai morar com seu irmão mais velho, Charlie (Charlie Sheen), um criador de jingles e típico homem de meia idade mulherengo e machista, Junto deles está Jake (Angus T. Jones), o filho único de Alan. A convivência dos três é para lá de complicada e rendeu alguns dos momentos mais engraçados da década, não por menos, essa foi a comédia mais assistida durante alguns bons anos.
Caindo na Real / Arrest Development (Netflix, 2003-2019) tinha a família mais problemática que existe na terra, os episódios mostravam como uma simples gota d´água pura, não pode salvar um rio poluído. Michael (Jason Bateman) vê seu pai George Bluth (Jeffrey Tambor) ir preso depois que a Receita Federal descobre uma série de falcatruas que ele aplicou na empresa, o honesto Michael tenta dar a volta por cima, mas sua família egoísta e manipuladora não vai facilitar as coisas.
A série filmada em tom documental e narrada em terceira pessoa trouxe um novo frescor para as comédias, mas a audiência não abraçou facilmente, nem mesmo o Emmy de melhor série de comédia conquistado, ou as apostas em várias participações especiais, foram suficientes para conquistar o público não foi o suficiente, a série foi cancelada depois de duas temporadas. Os produtores foram insistentes e trouxeram a série de volta a vida depois de sete anos, mas novamente não emplacou.
Já Amor Imenso / Big Love (HBO, 2006-2011) era uma mistura de drama e humor que mostrava a vida normal de Bill (Bill Paxton), suas três esposas e sua “tradicional” família mórmon de doutrina poligâmica. A vida “normal” de Bill o obriga a se entupir de Viagra, única forma de ele saciar suas três esposas famintas por sexo. O sucesso da série chegou com a crítica, chamando atenção da mídia para as comunidades mórmons que ainda existem e que ainda praticam a poligamia e causou ainda mais polêmica, porque a série deixa aberta a hipótese de que essa prática talvez não tenha qualquer relação com religião e sim com a pura safadeza que o ser humano gosta, além de denunciar práticas nada ortodoxas como a pedofilia e casamentos arranjados entre figuras poderosas da igreja e meninas menores de idade.
Show de cancelamentos
Os anos 2000 foram ótimos para as séries que conquistavam o público, não interessa se ela era realmente boa, se conquistasse audiência, já era garantia de algumas temporadas ao longo dos anos, mas a primeira década do século foi cruel com muitos criadores e produtores e até com alguns atores que pareciam estar “amaldiçoados”.
O mundo é gigante, algumas cidades são enormes, com altos arranha-céus, muita violência, altos preços e por aí vai. Voltar para a pequena cidade de Jericho US (CBS, 2006-2008), esse era o plano de Jake Green (Skeet Ulrich) que volta para casa depois de uma briga com seu pai, o protagonista quer recuperar o tempo perdido e resolver algumas pendências do passado, mas tudo vai pelos ares – literalmente – quando duas cidades americanas são atacadas por armas nucleares, causando pânico generalizado em Jericho. O suspense, pavor, pânico, medo e muita paranoia retratadas com o realismo fantástico, nada disso deu certo, a audiência não abraçou e a série foi cancelada depois de duas temporadas.
O mundo bizarro de Carnivale (HBO, 2003-2005) também não teve vez, isso porque a HBO raramente cancela suas séries, mas essa série não era para muitos, mostrava Bem (Nick Stahl) que acabara de se juntar a um grupo de circenses durante a Grande Depressão Americana dos anos 30. Tudo que ele quer é esquecer seu passado, seu curioso poder de curar as pessoas e os inúmeros pesadelos. Do outro lado temos o pregador Justin Crowe que tem habilidade de subjugar as pessoas, de acordo com seu desejo. A série mostrava a clássica luta do bem contra o mal. Os circenses foram cancelados depois de duas temporadas, a HBO chegou a receber 50 mil e-mails durante um final de semana em protesto ao cancelamento, não adiantou.
Mas o maior desapontamento da década foi com Studio 60 on the Sunset Trip (NBC, 2006-2007), série criada por Oscar Aaron Sorkin que viria a vencer um Oscar A Rede Social (2010). A série queria mostrar ao público estadunidense que nunca foi fácil fazer televisão nos Estados Unidos, principalmente em tempos de guerra, crise, com pressões dentro e fora da emissora, tudo isso mostrando o diretor do programa Studio 60, uma espécie de programa de esquetes, surtando e entrando na abertura para fazer um duro discurso sobre os rumos que a emissora está tomando, uma excelente ideia que não foi abraçada pelo público, cancelada.
Censura? De jeito nenhum!
OUSADIA! O principal lema dos canais pagos dos EUA, era a ousadia, especialmente depois que The Sopranos e Sex and The City fizeram um enorme sucesso, sinal de que o público estava gostando do que estava assistindo, sinal verdade para algumas das grandes séries da década.
MACONHA! O logo de Weeds (Showtime, 2005-2012), maconha em inglês, era uma folha de maconha, adivinha por quê? Bom, a série narra a história de Nancy (Mary L. Parker) uma dona de casa do subúrbio que planta maconha para pagar sua hipoteca, depois da morte prematura do marido. A série era ousada, divertida e simpática, ganhou alguns prêmios e mostrou que a maconha é um monstro bem menor do que parece e mostra o quanto a proibição da droga gera oportunidades para criminosos de todos os níveis e índoles.
FAMA! Entourage (HBO, 2004-2011), baseado nas experiências do ator Mark Wahlberg, mostrou como é o cotidiano de um jovem ator em ascensão em Los Angeles, a meca do cinema, o lar de Hollywood. Ao longo de oito temporadas fomos jogados nos dias, idas às compras, relacionamentos amorosos, muito sexo, drogas, festivais de cinema, filmagens e muito drama – uma das grandes comédias da década retrasada.
MORTE! Como lidar com a morte? O principal foco de Six Feet Under (A Sete Palmos, HBO, 2001-2005) era esse, criado por uma das mentes mais brilhantes do cinema e da televisão da década passada, Alan Ball mostrava os dias da família Fisher, donos de uma agência funerária em Los Angeles. A família que acabou de perder o patriarca começa a passar vários problemas, desde financeiros até psicológicos, outra série que foi muito abraçada pelos críticos e pelas premiações.
E por falar em mortes sem censura, Dexter (Showtime, 2006-atualmente) mostra o que se passa na mente do assassino em série, Dexter Morgan (Michael C Hall), passo a passo antes de ele eliminar suas vítimas. O diferencial da série era o protagonista ser da polícia de Miami, mais precisamente da perícia, o responsável por encontrar vestígios para elucidar os crimes da cidade, ou seja, ele meio que tinha acesso livre aos criminosos da cidade e usou esse acesso para assassinar em série cada um dos assassinos em série que ele descobria existirem.
O sucesso de crítica – ao menos nas primeiras temporadas – fez com que o assassino ficasse no ar durante longos 7 anos e ganhar um recente revival / continuação exibida na Paramount +.
Outros sucessos:
O público abraçou séries adolescentes como Lances da Vida / One Tree Hill (The CW, 2002-2012), Um Estranho no Paraíso / The O.C. (FOX, 2003-2007), A Garota do Blog / Gossip Girl (The CW, 2007-2017), séries voltadas para o público adolescente, mas meio que “irrelevantes” no quesito requinte. Alguns outros sucessos ficaram abaixo de irrelevantes, Sobrenatural / Supernatural (The CW, 2005-2020) e Prison Break (FOX, 2005-2017) foram enormes sucessos, mas, sinceramente, eram ruins de doer na alma.
E se você acha que eu esqueci de Breaking Bad e Mad Men, as séries mais definitivas dos anos 2000, é porque você ainda não viu o próximo capítulo da série TV Saudade que vai ao ar na semana que vem. Se os anos 2000 deram o que falar, espere para ver as séries que explodiram nos anos 2010.
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