Não era amor, era... comício
Em 1ª aposta João Santana se alia ao MBL, monta comício surpresa, deixa Dória com cara de vice do Ciro e assiste a uma Av. Paulista esvaziada.
Desde os discursos golpistas nos protestos antidemocráticos de 07 de setembro, não se falou em outra coisa a não ser no evento de resposta do MBL. Mas quem foi ao evento esperando uma frente ampla contra o fascismo, encontrou, na verdade, um comício do Ciro, com muito antipetismo e algumas participações especiais.
Apesar de já estar marcado há meses, desde que o MBL anunciou que romperia com Bolsonaro (sem partido), nas últimas semanas muito esforço foi feito para que os atos não fossem vistos como um ato do MBL, talvez já prevendo e temendo o esvaziamento, uma vez que o grupo caiu no limbo político depois de terem feito parte do golpe parlamentar, trabalhando ao lado de Eduardo Cunha, na manobra de massas nas ruas, enquanto o então presidente da câmara, articulava politicamente o impedimento de Dilma (PT), ao passo que ameaçava o governo com pautas bombas, como o shopping parlamentar, parlashoping para os íntimos.
Nesse movimento, chamou a atenção a participação de algumas personalidades, até então, críticas aos métodos e posições políticas do MBL. O grupo acumula ações diretas reacionárias e compartilhamentos dos conteúdos mais infelizes no que diz respeito a civilidade política.
Reinaldo Azevedo, por exemplo, crítico de primeira hora dos excessos lavajatistas, um movimento aliado e alimentado pelo MBL, foi enfático ao defender que seria um ato suprapartidário em defesa da democracia e contra o fascismo, isso justo no ato chamado pelo grupo que divulgou fake News sobre a vereadora assassinada Marielle Franco; um grupo reacionário de vigilância ideológica, com atitudes classificadas pelo “tio Rei” como atitudes “fascistóides” que já levaram ao cancelamento do Queermuseu em Porto Alegre – RS e na coação do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), por conta de uma performance que envolvia um homem nu.
Essa defesa de que o ato seria suprapartidário não colou. Os campos mais progressistas subiram o tom, lembrando do histórico do MBL, mas nos comunicados oficiais as linhas dissidentes evitaram pregar o boicota, limitaram-se a apontar o MBL como motivo para da não participação.
Na expectativa se iria “flopar” / ”miar”/esvaziar ou "bombar" / "lotar" / encher, um jogo de muitas coincidências foi sendo revelado:
O MBL, apesar de ter causado grande estrago no cenário político nacional, hoje já não é expressivo, está abandonado, isolado e desacreditado, um grupelho mergulhado nas próprias invenções, limitado a tentar atrair os jovens mais reacionários, pensando no futuro dos pensamentos mais extremados à direita. Aparentemente, sem Ciro teria tido menos da metade do já escasso público presente, ou alguém acha que Simone Tebet e Alessandro Vieira arrastariam multidões?; o “dresscode”/traje escolhido foi a roupa branca, o que combinou muito bem com as dezenas de bandeiras carregadas pela modesta militância do PDT presente no ato que, coincidente e convenientemente, caiu no dia 12, o número da legenda de Ciro, justo o Ciro que vem há meses flertando com cada gota de ódio restante do “antipetismo”, discursou no evento ao lado de Mandetta, outro postulante a 3ª via, ou a qualquer cargo que sobre dela, como o cargo de vice decorativo, ministro da saúde etc; MBL não tem candidato próprio; no mesmo ato, um balão estampado com o desenho de Lula abraçado a Bolsonaro e o carro de som do “Vem Pra Rua” davam o tom “Nem Lula e nem Bolsonaro”, algo curioso de se acontecer em um protesto que dias antes pediu a militância petista emprestada para fazer volume no ato.
É bem verdade que nesse mar de coincidências, outro postulante ao cargo de presidente, o governador de SP, João Dória (PSDB) também marcou presença e discursou, mas pelas imagens divulgadas é possível deduzir que ele foi de desavisado, aquilo não foi um protesto, foi um comício do Ciro, minuciosamente orquestrado pelo notável do marketing político, João Santana.
João Santana é um marketeiro habituado a vencer eleições nacionais e internacionais, ele conhece o jogo político e, ao que tudo indica, a habilidade dele não apenas permitiu que Ciro ganhasse o apoio do MBL, mesmo depois de tantas rusgas entre as partes, como também foi capaz de convencer Reinaldo Azevedo, um jornalista com melhor trânsito entre os quadros do PSDB, de que a 3ª via ainda está aberta, mas era uma cilada, ou melhor, um comício (do Ciro).
No microfone, Ciro Gomes mantinha a estratégia de flertar com o bolsonarismo através do “antipetismo” e, principalmente, “antiLulismo”, dando a certeza aos dirigentes do PT, PSOL e toda a militância canhota que ignorou o evento, que a decisão foi acertada, assim evitaram o constrangimento de serem usados de massa de manobra e ainda ofendidos no mesmo ato que foram chamados a participar.
Aos otimistas, que inclui, além de Reinaldo e Dória, Isa Penna (PSOL), ficou a lição: diplomacia de bastidores sempre cabe, mas não se faz demonstrações públicas de afeto com esse tipo de gente que se criou com "escola sem partido" e seus podres derivados.
Até 2022 tem muito chão pela frente e água para rolar, de um tudo pode acontecer, mas uma coisa ficou clara, não tem bobo na corrida eleitoral, só desavisados.
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