Mais um fracasso geopolítico. Entenda a relação dos EUA com o Talibã
Em apenas um mês após saída dos EUA de Cabul, Talibã toma o Afeganistão e expõe fracasso da geopolítica estadunidense. Após US$ 3 trilhões investidos, o grupo que abrigou a Al-Qaeda está de volta ao poder.
Nos últimos dias o mundo assistiu atônito às imagens surreais, deslocamentos em massa e até invasões em aeroportos que ocorreram em um movimento de fuga após o Talibã, grupo religioso e político com práticas terroristas, retomar o controle do Afeganistão apenas um mês após os EUA retirarem suas tropas da base aérea de Baghram, principal instalação militar dos EUA no país.
Tudo que aconteceu no Afeganistão é só mais uma consequência das políticas desastrosas de sabotagem geopolítica criada pelos EUA desde o final da 2ª Guerra Mundial, de forma a barrar o avanço soviético e das políticas econômicas defendidas no bloco.
GUERRAS POR VOTOS:
Guerra contra o Comunismo, Guerra contra o Terror e Guerra contra as drogas, em comum entre elas, o motivo: Se trata de guerras contra inimigos imaginários que governos estadunidenses criaram tanto para criar espírito de corpo na população em busca de votos, quanto para justificar o uso exagerado da força, ou a interferência na soberania de outros países por interesses econômicos.
Após a União Soviética somar forças com os países Aliados (EUA, Reino Unido e França), em uma cooperação decisiva para impor a derrota definitiva ao nazismo, o mundo passou a assistir à guerra fria entre comunismo e capitalismo, guerra travada em disputas como as corridas nuclear, espacial e até uma corrida no âmbito esportivo, transformando as Olimpíadas em um campo de batalha limpo onde os países podiam disputar forças sem causar mortes e exibiam o sucesso na formação de seus atletas como uma espécie de chancela do desenvolvimento humano no país.
Foi um período dicotômico, pois enquanto assustavam o mundo com o desenvolvimento do arsenal nuclear, também maravilhava a humanidade com grandes desempenhos esportivos e conquistas espaciais como o primeiro satélite artificial colocado em órbita (Sputnik 1, 1957 – URSS) e o primeiro foguete e alcançar a lua (Apollo 11, 1966 – EUA).
Por trás das câmeras que filmavam a guerra “fria” o jogo sujo comia solto. Espiões buscavam roubar informações militares e tecnológicas que os países desenvolviam e essa disputa gerou filmes incríveis, mas na prática, agências secretas estadunidenses praticavam a sabotagem geopolítica em ações que iam desde a sabotagem econômica, como a realizada contra Cuba, aliada soviética, até a criação e fornecimento de armamentos para milícias que imponham resistência nos termos que forem necessários, para impedir que outros países fossem conquistados ou simplesmente aderissem à agenda praticada pela URSS.
Nesse momento da história a CIA executou um programa secreto da guerra contra o comunismo, que financiava e armava grupos rebeldes interferiam na soberania dos países, foi o caso do Talibã, financiado pelos EUA de 1979 a 1989 contra a manutenção de um governo alinhado ao bloco soviético, que serviu aos seus interesses, mas acabou se tornando um indesejável inconveniente quando ascendeu ao poder na década de 1990, dando sustentação e base para grupos extremistas como a Al-Qaeda que em 2001 sequestrou voos domésticos nos EUA e jogou aviões contra as torres gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque e até contra o Pentágono, sede militar das forças armadas dos EUA. A partir daí, com a dissolução do bloco soviético e a adesão da China ao socialismo de mercado (capitalismo), os EUA elegeram uma nova guerra, a “guerra contra o terror”, uma cara e desastrada guerra que custou centenas de milhares de vidas entre soldados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e de civis e rebeldes do Afeganistão, Paquistão e região, além de um assustador gasto de dinheiro público, calculada entre US$ 3 e 5 trilhões de dólares nos últimos 20 anos.
Inimigo do inimigo, é amigo?
Saddam Hussein foi outro ditador bem-quisto e, ao que tudo indica, financiado e apoiado pelos EUA, durante as décadas de 1960 e 70, pelo mesmo motivo que o Talibã. O então militar Iraquiano era entendido como uma força antissoviética. Depois deu no que deu, o ditador não quis sair do trono e os EUA inventaram um motivo que nunca se confirmou, nenhuma arma nuclear nunca foi encontrada em solo Iraquiano.
Na guerra contra as drogas, cunhada pelo governo Nixon em 1971, departamento de narcóticos (DEA) chegou a apoiar, ou, na melhor das hipóteses, fazer vista grossa para o cartel de Cali, como forma de tirar forças do cartel de Medellín. Pablo Escobar foi morto, porém, a indústria das drogas nunca foi derrotada na Colômbia, até porque o Cartel de Cali se tornou maior e mais perigoso que seu “extinto” rival. Hoje os EUA arrecadam bilhões em impostos, com a venda legal de maconha.
São estratégias covardes, uma forma clássica de convencer “mercenários” a realizarem o trabalho sujo e morrerem por interesses escusos. Métodos no mínimo questionáveis que causam grandes danos colaterais abandonando esses países à própria sorte para lidarem com a miséria, violência, guerras civis e a responsabilidade pela reconstrução e repactuação da sociedade.
Ruim com eles, pior sem eles?
Cuba, um verdadeiro paraíso tropical (e fiscal) regado a cassinos, prostituição, mão de obra barata, miséria e muita corrupção nas décadas de 1930, 1940 e 1950, foi tomada em uma revolução sem ligações com o regime comunista soviético, mas que se apresentava como uma ruptura popular contra os abusos do ditador Fulgêncio Batista. A revolução foi recebida com festa e marchou sobre Havana em 1º de janeiro de 1.959, promovendo uma profunda reforma agrária, contando com larga adesão e aprovação de uma população pobre, faminta, explorada e escravizada.
Cuba consegue educar, alimentar, garantir moradia e saúde para todos seus cidadãos, mesmo estando sob embargos comerciais há 62 anos. Para se ter uma ideia, Cuba é proibida de importar e exportar. As relações comerciais com Cuba são vetadas por uma chantagem que diz que qualquer empresa ou país que mantiver relações comerciais com Cuba podem ser impedidos de negociar com empresas estadunidenses e ainda serem enquadradas em uma lista de apoiadores do terrorismo, um crime que Cuba, desde a revolução, nunca cometeu.
À Cuba restou apenas a receita conseguida com o turismo e com a exportação de serviços humanitários, como os famosos médicos cubanos, muito elogiados e recorrentemente utilizados em desastres naturais, ou em emergências sanitárias como o Ebola na África e o Coronavírus na Itália, além dos serviços regulares de saúde familiar já utilizados no Brasil (programa Mais Médicos) e em países como Espanha, Itália, Haiti, China, África do Sul etc.
A incompetência camuflada e financiada por uma frequente expansão monetária e uma fraudulenta financeirização econômica que não raramente resulta em bolhas e crises econômicas de alcance global, como as crises de 1929 e 2008, fez com que em mais de meio século de monopólio sobre o regramento econômico capitalista, não conseguisse sequer proporcionar alimentação, saúde, moradia e educação gratuita de qualidade para seus cidadãos, como há muito já fez a sempre desidratada e sabotada, ilha do embargo.
No país cercado e mantido de refém pelos EUA, onde a influência estadunidense pouco alcança, nenhuma criança dormirá na rua, como desafiou Fidel em seu discurso histórico décadas atrás; já no Afeganistão, local onde os EUA despejaram mais de três trilhões de dólares em recursos militares nos últimos 20 anos, hoje nenhuma criança dorme em lugar nenhum, com medo do que pode acontecer com a recente tomada de poder do Talibã, grupo terrorista armado pelos EUA durante a guerra contra o comunismo.
Tomara que o mundo aprenda a resolver seus problemas geopolíticos de formas menos bélicas e que a carta branca militar dos EUA seja revogada, porque nós não sabemos o que teria acontecido com o mundo se os EUA não tivessem entrado em tantas disputas no período pós segunda guerra, porém, sabemos o que aconteceu e não foi nada bom na maioria dos casos.
Faria muito bem ao mundo nunca mais presenciar cenas como as da “quebra de 29”, das “flores de Hiroshima e Nagasaki”, do “agente laranja” no Vietnã, das guerras do Iraque e do Afeganistão, ou dos despejos e suicídios do estouro da bolha de 2008... Todas as cenas causadas pela ambição e ganância do “menino mimado do Norte”, o vendedor de sonhos, falsos sonhos.
Essas guerras contra inimigos fantasmas, no fim são apenas cortinas de fumaça que escondem a covardia do país cuja abundância e extravagância financeira não foram capazes, sequer, de instaurar a paz e a dignidade dos cidadãos dentro de suas próprias fronteiras.
O país autointitulado “xerife do mundo”, acumula com a tomada do Talibã, mais um fracasso em suas interferências geopolíticas. Chegou a hora dos EUA entenderem que eles são seus próprios inimigos e que suas políticas econômicas altamente poluentes é que são o verdadeiro inimigo do mundo, a guerra agora é contra as mudanças climáticas e nessa guerra é bom o país ser mais eficiente do que nas sabotagens, porque diferente do Talibã, os efeitos das mudanças climáticas já alcançam solo americano.
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