Japão: Um arquipélago medalhista!
colaborou: Ricardo Cruz
As olimpíadas de verão em Tóquio: Os desafios diante da pandemia.
Mesmo com todo sucesso que o Japão mostra ao mundo com sua tecnologia avançada e seus altos recursos de sustentabilidade, receber e gerir uma olímpiada passa a ser uma tarefa que requer muito mais logística e cuidados, diante do cenário pandêmico que permeia o mundo moderno.
Bem diferente do que aconteceu em 1964 quando o Japão sediou, como agora, as olímpiadas de verão. Na época o país estava com sua reconstrução bastante avançada, 19 anos após a trágica e covarde cena assistida pelo mundo, com o bombardeamento de Hiroshima e Nagasaki. Com todas as atenções voltadas a Tóquio, o país pôde não só apresentar ao mundo uma organização e eficiência, como também usou, de forma honesta e precisa, todo seu desenvolvimento nas indústrias automobilísticas e de equipamentos domésticos e industriais, oferecendo-os aos outros países. Negociações que não só ajudaram a economia japonesa, mas que também mostraram ao mundo empenho e qualidade nos produtos oferecidos.
Com as olimpíadas de 2021 não seria diferente. Os negócios e a propagação da cultura local estavam dentro dos interesses. Lucrar com negociações importantes e ajudar outros países com conhecimento histórico e estilo de vida adequado seriam de extrema importância, não fosse o momento atual. As questões sanitárias com suas exigências em protocolos determinados pela Organização Mundial de Saúde, impediram o país de fazer com que as olímpiadas pudessem ser mais abrangentes nos negócios, no turismo e na cultura.
Ao contrário do ocorrido na segunda guerra mundial, agora o mundo se vê acuado e limitado por um vírus presente em todas as cidades do mundo. Tóquio, com sua capacidade sanitária e organizacional sediou os jogos de verão, mas longe de abrir todo o leque de possibilidades que envolvem o evento. Jogos sem público, menos pessoas circulando e segurança dobrada deixaram uma marca histórica também aos japoneses, obrigados a agir dentro das limitações impostas por toda a situação da pandemia.
Independente do atual momento global, o país do sol nascente, como poeticamente o chamamos, sempre estará entre os recordistas e medalhistas.
Japoneses são exemplos de força de vontade e determinação, com uma filosofia de vida raiz em que a natureza e personalidade humana se fazem presentes em todos os aspectos, inclusive no esporte que a maioria da população tem como hábito, exercícios que visam promover uma melhor saúde física e mental. O “Taissô”, cujo significado é ginástica, está presente nas empresas, nos parques públicos e inclusive nas rádios, sempre visando a harmonia entre corpo e mente.
Tendo o Xintoísmo como a espiritualidade tradicional, respeito ao próximo e uma união em prol do bem comum deixam o país mais próximo daquilo que todos buscamos em termos de uma civilização mais justa e correta.
Da mesma forma que o mar banha e traz benefícios a seu território, a população japonesa também cerca-se de uma linguagem mais precisa, onde o perdão e a elevação humana fazem-se sempre presentes. Graças a sua capacidade perceptiva com relação ao próximo, conseguem sempre utilizar uma linguagem adequada ao contexto, tanto no pessoal quanto nas áreas de educação e trabalho. “Teineigo” e “Sonkeigo” (linguagens formais do idioma japonês) são exemplos da comunicação nipônica, linda e abrangente, polida, respeitosa e incentivadora. Uma forma perfeita de expressar o respeito ao próximo.
A arquitetura presente no país possui traços harmônicos que unem o aspecto cultural com a exuberância da natureza. Casas que enchem os olhos e convidam a entrar numa atmosfera de valorização e pertencimento, expressas em cada detalhe entre portas, janelas, tatames, cores, cheiros e leveza. Numa proposta de junção arquitetônica com saúde e gastronomia, as pousadas tradicionais japonesas, conhecidas como “Ryokans”, oferecem acomodações típicas com comidas que valorizam cada item da colheita diária e sazonal. Um conjunto arquitetônico dotado também de ofurôs, na maioria das vezes com água aquecida pela própria natureza, de origem termal vulcânica, que reforçam ainda mais a tradição com seus cuidados medicinais.
A riqueza de cada detalhe e valorização dos aspectos humanos também levaram o Japão a entender e investir constantemente numa educação de ponta, com qualidade e respeito. Diferentemente de muitos países ocidentais, estudantes daquele país frequentam escolas muito bem estruturadas, com aulas praticamente em período integral. Além de abordarem aspectos importantes do ensino como um todo, existem aulas extracurriculares oferecidas em clubes, de forma coletiva. Embora não sejam obrigatórias, costumam ter presença maciça graças aos conhecimentos adicionais como artes, mecânica, culinária, elétrica e eletrônica.
Aspectos de uma educação que permitem ao aluno maior autonomia que lhe garantirá solucionar assuntos práticos do dia a dia, sem, necessariamente, precisar da ajuda de um terceiro. Esses aspectos precisos e importantes na área educacional levam os japoneses a terem certeza, na maioria das vezes, sobre suas escolhas profissionais. Ingressam nos ensinos superiores já com bastante bagagem para rumar a um futuro em que seus talentos serão muito bem aproveitados, gerando satisfação pessoal e trabalho em benefício de todos.
Dentro de uma filosofia de vida bem caracterizada pelo Xintoísmo, a espiritualidade tradicional do Japão, a população traz consigo de forma bastante internalizada não só o respeito ao próximo, mas também a valorização primorosa de sua cultura. Esses fatores não servem de impedimento para buscar conhecimento em outras partes do mundo, permitindo-os inclusive incorporar na própria cultura aquilo que consideram positivo, porém sempre aperfeiçoando, de forma a manter as raízes e as características tradicionais de seu país. Como exemplo, Osamu Tezuka tornou-se o pai do “mangá moderno”, após conhecer e inspirar-se em Walt Disney, com seus tradicionais personagens. Tezuka criou seus personagens com detalhes para os olhos, maiores e mais arredondados que rapidamente foram bem aceitos pela população japonesa. Seguindo-se a isso, surgiram também os desenhos animados orientais, “Animes”, para os íntimos.
Do monte Fuji à belíssima Tóquio. Das cerejeiras em flor à Okinawa. Do sol nascente ao luar de Hiroshima e Nagasaki.
Japão. Um país de histórias inspiradoras, de samurais a imperadores. De vítima da guerra a grande vencedor, batalhando por um mundo melhor em todas as áreas e, sem dúvida, um exemplo admirável de povo, de nação e de vida.
Ricardo Cruz, cantor, compositor, estudioso e aficionado pela cultura japonesa há mais de 25 anos, foi colaborador desta coluna.
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