Crise dos Fertilizantes: Brasil deixou de produzir 5 mil toneladas por dia em 2020.
Bolsonaro diz que vai faltar fertilizantes, após ceder duas fábricas de fertilizantes à iniciativa privada e fechar uma terceira em 2020.
por Antônio Pedro Porto, redação Dossiê etc
No último 07 de outubro o presidente Jair Bolsonaro fez uma declaração no mínimo estarrecedora e capaz de deixar muita gente insegura com relação ao futuro do país. Durante discurso em cerimônia para divulgar novas regras sobre segurança do trabalho, o presidente fez um discurso oficial no Palácio do Planalto, o Bolsonaro disse que o preço dos fertilizantes já subiu muito e que o risco de falta desses insumos no mercado, pode fazer faltar alimentos em 2022.
Ironia do destino, ou não, o projeto de desestatização, uma das principais bandeiras do governo Bolsonaro, fez o Brasil deixar de produzir pelo menos 5 mil toneladas de fertilizantes por dia. Em agosto de 2020 a Fafen-BA e Fafen-SE (Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados) foram cedidas à iniciativa privada por apenas R$ 177 milhões ( 8% da previsão de receita anual, R$ 2 bilhões), e desativou a Fafen-PR, conforme denunciou a matéria de Guilherme Weimann, publicada no site da SINDIPETRO.
Juntas as três fábricas tinham a capacidade produtiva instalada de 5 mil toneladas de ureia por dia além de potencial produtivo para amônia, gás carbônico e sulfato de Amônio, todos fertilizantes essenciais para a produção agrícola, os mesmos fertilizantes que podem faltar no mercado internacional. Além dessas três fábricas, a Petrobrás tinha um plano de investimento que previa o término da construção de uma quarta fábrica de fertilizantes, para expandir a atuação através da UFN 3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados), cuja construção foi interrompida no processo de desinvestimento da estatal, mesmo com 80% das obras concluídas, segurando a matéria de Weimann.
A notícia, que já circula e preocupa o cenário internacional, é que a China está com dificuldades de abastecer o mercado interno com fertilizantes e que ao persistir esse cenário, é possível que a China limite volumes destinados à exportação.
Por conta da alta do dólar, o preço dos fertilizantes já havia disparado. Conforme apurado pela Folha de S. Paulo, fosfato de monoamônio, ureia e potássio já apresentavam altas de 85% a 104% no acumulado de um ano, quando comparado julho de 2021 com 2020.
Essa alta de preços não deve ser tão prejudicial ao grande agricultor que tem expandido seus lucros com a exportação nessa onda de alta do dólar, porém, para os produtores que abastecem o mercado interno isso é um aumento de custos significativo e a ausência desses fertilizantes não anula a produção agrícola, porém, podem reduzir o potencial produtivo da área plantada (peso / área) e fazer faltar alimentos.
Caso China e Índia continuem tendo problemas para produzir e distribuir seus fertilizantes, o mundo poderá sofrer bastante com a escassez de alimentos, algo que não deveria passar nem perto de ser uma preocupação para um país como o Brasil, o terceiro maior produtor e segundo maior exportador de alimentos do mundo. A solução para um problema desse tipo poderia ser o investimento na expansão produtiva desses insumos em solo nacional, mas só “poderia”, porque o plano de Guedes de desestatização e desinvestimento, fez com que o Brasil não tivesse reservas, nem fábricas e fertilizantes.
As três fábricas juntas eram capazes de abastecer 20% do mercado nacional. Sem fábricas para expandir a produção nacional, ao Brasil resta apenas torcer para que China e Índia não interrompam nem diminuam o fornecimento de insumos agrícolas, caso contrário, poderá faltar comida tanto para os brasileiros, quanto para os países que dependem de alimentos produzidos aqui.
À época trabalhadores da Petrobrás entraram em greve e em 2021 partidos políticos acionaram o STF pedindo a reabertura da fábrica no Paraná, nem que fosse para produzir oxigênio para UTIs, mas não conseguiram reverter a decisão.
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