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Domingão com Huck é um livramento para o país

Após flertar com partidos e figuras políticas, Luciano Huck comandará os domingos da Globo.

Luciano Huck em entrevista para o fantástico na noite de 29 de agosto de 2021 | Imagem: Reprodução Globo

Luciano Huck é mais ou menos como o Corinthians, time pelo qual ele torce, ou se ama, ou se odeia, nas redes sociais, principalmente depois da corrida eleitoral de 2018, quando o apresentador chegou a ser ventilado como um candidato de 3ª via, não há opiniões médias sobre o apresentador, para o grande público nas redes sociais ou ele é “um capitalista ganancioso” ou “um cara muito bacana que é uma opção para tudo que está aí”... Um possível salvador da pátria.


Não é para menos, Luciano Huck está há 21 anos na globo, a emissora de maior audiência e foi a grande aposta para o futuro que a Globo fez, talvez a única aposta pensando em uma grade sucessória, pois pode não parecer, mas os ídolos não são eternos. O primeiro grande desfio da emissora foi a saída de Jô Soares, que para o alívio da emissora não foi para concorrência, já que a emissora até hoje não encontrou ninguém com a competência e carisma do Jô, um grande entrevistador.


Agora, Faustão vai para a Band e a sucessão óbvia, Luciano Huck é alçado ao cargo de “dono do domingo”. Uma troca esperada para o fim do ano que precisou ser antecipada por alguma rusga entre Faustão e Globo que ainda não ficou muito clara. Luciano é o que é, muito longe da figura popular do cronista esportivo, carreira inicial de Faustão, Huck é o boy, o clássico boy que teve muitas oportunidades e sejamos sinceros, conseguiu aproveitar.


Hoje, com a imagem de um pai de família sério, que patrocinado pelo maior banco do país entra na casa de pessoas paupérrimas e realmente muda a vida dessas pessoas, talvez nos esqueçamos, mas Luciano evoluiu muito. No começo da carreira, ele era um garotão entusiasmado cercado de personagens sexys e assistentes de palco com pouquíssima roupa, talvez influenciado pelo padrasto Márcio Escobar, ex-diretor de redação da extinta revista Play Boy.

Luciano Huck e as coleguinhas, suas assistentes de palco que fizeram parte do cenário desde os tempos do programa H na rede bandeirantes. | Foto: Memória Globo

Não notar essa grande evolução na qualidade profissional do apresentador é uma tolice. O investimento da Globo deu retorno, eles construíram uma figura capaz de interagir com públicos de todas as idades e, portanto, apto a assumir os domingos da Globo em uma eventual aposentadoria de Faustão, ou, como foi o caso, a ida do nº 1 da emissora para algum veículo concorrente.


Entretanto, o tal do livramento apontado no título, não é em relação a substituição de Faustão por Luciano, a meu juízo, Faustão, além de mais talentoso (mais experiente), é também mais honesto com seu público, o Faustão comandou por décadas uma verdadeira LOJA nos domingos da Globo e nunca escondeu isso, ele estava ali para vender e sempre deixou isso muito claro em merchandisings diretos. Faustão sempre foi a distração popular, sem precisar, necessariamente, explorar o sofrimento do cidadão pobre. Luciano é mais sutil na propaganda e é disso que eu não gosto.


O livramento nesse caso é em relação à sua eventual carreira política. Explico:

Luciano Huck começou pelo alto, estudou nos melhores colégios, cursou USP, foi assistente do JR Duran, talvez o maior nome da fotografia sensual, o fotógrafo mais famoso da PlayBoy, revista cuja redação era comandada por seu padrasto. Dali para a frente, Jovem Pan, Gazeta, Band e Globo, o garoto voou e virou um cinquentão tido entre os 5 melhores apresentadores de entretenimento da atualidade. Ele fez muito por ele mesmo, por sua família e hoje ele deve ser o maior salário da Globo.


Porém, entre fazer o melhor por si e pensar na sociedade existem diferenças gritantes. Um exemplo é o carro chefe de seus programas, o assistencialismo prestado que beneficia uma família por semana.

Lar doce Lar, o quadro mais famoso do Caldeirão do Huck reformou a casa de centenas de famílias brasil a dentro

Na TV a coisa é meio personalista, não dá para ajudar todo mundo,, não dá para ajudar as 80 milhões de pessoas em insegurança alimentar, então se ajuda uma pessoa e vai lá, monta-se um estúdio na casa da pessoa para mostrar cada azulejo posto “de graça”; por outro lado, o espírito público não admite personalismo, não se ajuda um “CPF”, não se faz doações de cestas básicas em troca de propaganda para supermercado regional, o espírito público requer abdicação das causas pessoais, daquelas causas que o beneficia, para fazer aquilo que é de interesse e importância pública, principalmente para as pessoas mais pobres e isso, não raramente, vai de encontro/vai contra os interesses das pessoas mais ricas do país, grupo ao qual Luciano facilmente pertence.


Luciano é personalista, ele foi criado, treinado, ensinado a ser assim, a pensar primeiro em si, se autopromover a qualquer custo e em qualquer situação, ele é treinado para se vender como melhor produto, sempre. Ontem, em entrevista ao Fantástico fiquei preso a alguns pontos que demonstram claramente isso:


Em determinado momento ele fala sobre sua desconstrução como homem e sobre como foi “difícil” para ele, quando o irmão dele assumiu que “era”[SIC] gay. Eu imagino que ele tenha sido impactado, talvez pego de surpresa, mas imaginei que se para ele e para a família dele foi difícil, imagina para o irmão. Mas sobre isso ele não falou na entrevista, afinal, a entrevista era sobre ELE, sobre o programa DELE e o livro DELE;


Momentos depois a jornalista Renata Ceribelli, começa a perguntar sobre alguns traumas, como o acidente de avião que sofreu com sua família e que ele descreve em seu livro, um momento oportuno para agradecer e enaltecer a destreza do piloto que conseguiu pousar o avião em condições adversas poupando a integridade de toda a família, certo? Não, na entrevista Luciano preferiu mostrar como ele foi proativo e heroico ao manter a calma e mandar a família apertar os cintos e abaixar a cabeça. Certamente, isso deve ser a coisa mais decisiva que aconteceu naquele dia, deve ser...


O terceiro e último ponto que me chamou a atenção, foi sobre o grave acidente que seu filho sofreu enquanto praticava Wakeboard, com direito a traumatismo craniano e tudo. Ele explicou como o ferimento foi grave e eu pensei logo em como a equipe médica foi habilidosa em cuidar do garoto que não ficou com nenhuma sequela, mas Luciano deu mais ênfase às seis, árduas, horas que Angélica permaneceu de joelhos rezando por seu filho. Segundo Luciano, a vida dele mudou.


Esses pontos, apesar de mostrar uma autopromoção para um protagonismo quase narcisista, não fazem de Luciano um vilão, fazem de Luciano um ser humano como como cada um de nós, sim, em geral damos mais ênfase a tudo que é nosso, ao que nós fizemos e às nossas qualidades. Um ser humano cujo instinto é escasso de espírito público, já que o espírito público é característica de poucas pessoas, é o pensamento nobre, de raras pessoas como o Padre Júlio Lancellotti, que coloca o interesse do próximo, acima dos interesses próprios, que dá sua vida por sua causa, ou de pessoas como Eduardo Suplicy, que mesmo com todos os privilégios, riqueza hereditária e estudos de uma elite poderosa, algo ainda mais raro em seu tempo de mocidade, mas preferiu se dedicar à vida pública, à defesa de um programa social que em hipótese nenhuma o beneficiaria de forma direta, o Renda Básica de Cidadania.

Luciano Huck seria o nome mais forte para disputar uma suposta 3ª via em 2022, apesar de nunca ter lançado oficialmente a pré-candidatura, nos bastidores o apresentador se reuniu com diversas figuras do cenário político e dizia para quem quisesse ouvir que estava no debate público e pronto para ajudar o país da forma que fosse possível/necessária, movimento que levou institutos de pesquisa a incluírem o nome dele em todos os cenários simulados, até o anúncio oficial de que ele comandaria os domingos da Globo.


Luciano não topou um novo programa, Luciano topou um novo salário, Luciano é o Messi da TV brasileira, o maior salário, o melhor produto, o garoto propaganda mais disputado, Luciano aos Domingos pode levar as cifras publicitárias para um outro patamar, como fizeram Gugu e Faustão quando transformaram o domingo na maior corrida por audiências da história da TV brasileira.


Entre ganhar muitos mais milhões do que já ganha por ano e do que já ganhou em toda sua carreira e salvar o país ganhando R$ 30 mil reais por mês, ele escolheu o óbvio para quem é dotado de riqueza material suficiente para várias gerações, mas de uma pobreza de intenções reduzidas à auto promoção ou à um jogo acariciar o ego, como a maioria de nós é. Para mim, foi a confirmação de que Huck não possui o espírito público tão necessário, diria até, essencial, nem para reconhecer os esforços daqueles cuja destreza salvou a vida de sua família, muito menos teria a nobreza necessária a um estadista que deseja lutar pela justiça social em um cargo público.


Se o Luciano tiver mais audiência do que a gigante audiência que já mantinha aos sábados, talvez ele consiga colocar na moda o ato de quem tem, ajudar mais quem não tem, dar mais oportunidades sem esperar tanto retorno para todo dinheiro que sai do bolso e se isso acontecer, o que eu acho difícil, já será muito bom, mas se não acontecer, tudo bem, alguém sem espírito público já saiu da corrida presidencial, vai ajudar o eleitor a colocar os pés no chão.


E sobre ele apresentar o Domingão? Bom, eu preferia Regina Casé com o "Esquenta" fixo, mas aí é uma questão de opinião.

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