A CARA DO CINEMA BRASILEIRO: 02 - Personagens Marcantes
Conheça os personagens mais marcantes do cinema e os atores que foram "engolidos" por eles e entraram para a história, para nossa história.
A CARA DO CINEMA BRASILEIRO é uma série especial de publicações do Portal Dossiê etc, escrita por Cleber Eldridge, sobre os atores que fazem o cinema nacional sobreviver, crescer e nos maravilhar com suas obras a cada dia.
Dos medalhões, que foram do cinema para a TV, até as revelações não tão conhecidas do grande público, os rostinhos do cinema brasileiro desfilarão pela série de publicações A CARA DO CINEMA BRASILEIRO. Aproveite e se aventure pelo cinema nacional. Uma viagem inesquecível. Boa leitura!
PERSONAGENS MARCANTES
O dicionário diz o seguinte: Personagem: 1. pessoa que é objeto por suas qualidades, posição social ou circunstâncias. 2. papel representado por um ator ou atriz a partir de uma figura humana fictícia criada por um autor.
Os personagens são quem nos passam sentimento, é através deles que mergulhamos em uma obra, na história, nas dores e na felicidade e, alguns deles, muito mais do que outros, foram importantes para história do cinema brasileiro, afinal de contas, quando se diz o nome Capitão Nascimento, você se lembra do que? Tropa de Elite (José Padilha, 2007) ou a voz rouca de Wagner Moura impondo ordem no batalhão, aliás, esse foi um dos personagens que mais fez sucesso no cinema nacional.
O premiado Central do Brasil (Walter Salles, 1998) também contava com uma protagonista “ame ou odeie” Dora (Fernanda Montenegro), uma mulher que escrevia cartas para pessoas analfabetas no meio da central do Brasil, mas que nunca as entregava, até se encontrar com Josué (Vinicius de Oliveira), um garoto casca grossa e que vai mudar a vida da escritora de cartas pra sempre, um filme clássico só poderia ter personagens marcantes.
Em outro caso impressionante, Regina Casé estava tão dentro do personagem, tão natural que a impressão que tivemos é que Val, de Que Horas Ela Volta? (Anna Muylaert, 2015) foi escrito sob medida para ela, não sou fã do filme, mas reconheço que Casé mergulhou fundo e nos entregou uma excelente interpretação.
Carandiru (Hector Babenco, 2003) contava com um mosaico de personagens, a maioria deles memoráveis, mas o destaque fica por conta de Lady Di e o Sem Chance, interpretados por Rodrigo Santoro e Gero Milo, um casal formado por uma mulher trans com um homem cis, que não ligam nem para onde estão – a cadeia – nem para o que os outros presidiários pensam sobre o Amor deles. O elenco também contava com Lazaro Ramos, que marcou a história do cinema com o premiado Madame Satã (Karim Aïnouz, 2002), personagem explosivo que passava por cima de tudo e de todos os preconceitos. Uma atuação forte e inesquecível.
O mais recente personagem sucesso é o bizarro Francisgleydisson (Edmilson Filho), de Cine Holliúdy (Helder Gomes, 2013) dono de um cinema no nordeste que não tem condições de custear a compra dos filmes para exibição, é então que ele decide filmar as próprias produções, claro, da forma mais barata e escassa possível, o resultado você já pode imaginar, é risada garantida, Vale a pena citar o guerreiro Lunga, personagem de Silvério Pereira, de Bacurau (Kleber M. Filho e Juliano Dornelles, 2019).
ADAPTAÇÕES & BIOGRAFIAS
O cinema, como é natural, costuma dar vida a alguns personagens já existentes, alguns deles famosos na literatura brasileira como Dona Flor e Seus Dois Maridos (Bruno Barreto, 1976) interpretada por Sonia Braga na primeira versão, ou Macabéa (Marcélia Cartaxo) de A Hora da Estrela (Suzana Amaral, 1985) ambas personagens famosas na literatura. As biografias seguem uma linha tênue entre o ator e o biografado, alguns deles foram sucumbidos pelo personagens, como Daniel de Oliveira, que será eternamente lembrado por interpretar Cazuza (Walter Carvalho e Sandra Werneck, 2004) ou Camila Morgado, que teve o meio feito em Olga (Jayme Monjardim, 2004) – isso falando, é claro, de cinema, apesar desses atores terem seus momentos na televisão e por falar em televisão, na edição do BBB 2020, o Babu Santana foi um dos participantes e muita gente associou o ator ao papel que interpretou Tim Maia (Mauro Lima, 2014).
PERSONAGENS QUE “ENGOLIRAM” OS ATORES
O fato é que quando o personagem é engraçado, dramático ou um grande vilão ele acaba se sobressaindo ao ator ou atriz que o interpreta, alguns deles são até confundidos como é o caso d´Os Trapalhões, o quarteto formado por Didi (Renato Aragão), Dedé (Dedé Santana), Mussum (Antônio Carlos Bernardes) e Zacarias (Mauro Gonçalves) viveram tantas vezes os mesmos personagens que os criadores acabaram engolidos pelas criaturas. No entanto ficou claro que após a partida de Zacharias e Mussum, o quarteto não teve o mesmo sucesso, mas pra todo e qualquer efeito, qualquer brasileiro, mesmo que nunca tenha visto nenhum dos muitos filmes da trupe, sabe quem são Os Trapalhões um caso de interdependência entre personagens, atores e trupe. Os comediantes costumam marcar mais, alguns dos melhores exemplos são Paulete (Rodrigo Garcia, Tatuagem) o ator estupidamente excêntrico de um grupo de teatro no nordeste que não tem papas na língua e ainda fazia coreografias grandiosas, impossível não lembrar, assim como a dupla Chicó & João Grilo (Selton Mello & Matheus Nachtergaele, O Auto da Compadecida) que 21 anos depois ainda são personagens referências, tudo isso não seria nada sem o sotaque e trejeitos que os atores incorporaram aos personagens.
"Dadinho é o caralho. Meu nome agora é Zé Pequeno, porra!"
O exemplo mais famoso de todos, sem nenhuma dúvida é o Zé Pequeno (Leandro Firmino, Cidade de Deus) com todos os seus bordões “Meu nome é Zé Pequeno, Porra!”, “Quer na mão ou pé?” e “Pega a galinha, porra!” um personagem gigantesco, muito bem interpretado e que jamais, jamais será esquecido, até porque Firmino tinha a faca e o queijo na mão, um personagem escrito com maestria, a direção perfeita de Meirelles, só o que precisava era que ele vivesse a persona com intensidade... ele fez. Leandro fez história.
O cinema brasileiro clássico – antigo – é de difícil acesso e a garotada dos dias atuais não têm muito interesse, o que é lamentável, mas isso é assunto pra outra hora, o ponto é que o cinema mais antigo também, evidentemente, rendeu personagens clássicos e que tragaram seus interpretes, só pra mencionar dois, há o Jeca Tatu (Amácio Mazzaropi), o matuto mais amado do Brasil, que ainda faz sucesso entre o público mais velho e que virou apelido carinhoso para todo e qualquer comportamento ou tradição caipira; e Zé do Caixão (José Mojica Marins, A Meia Noite Levarei Sua Alma) que ainda tem seus admiradores — os mais fanáticos por filmes de terror — e seu nome imortalizado, repetido na boca das novas gerações, ainda que não saibam ao certo do que se trata.
Os personagens citados acima, ao longo do texto, são só alguns dos milhares que o cinema produz anualmente, eu poderia ficar horas aqui falando de tantos outros que marcaram nossa história, por isso, lamento se deixei algum dos queridos de vocês leitores de fora, mas não custa lembrar, deixem aí nos comentários que em uma próxima ocasião falarei deles com a maior atenção possível.
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