A CARA DO CINEMA BRASILEIRO: 01 - Medalhões, Estrelas e Revelações
Atualizado: 19 de ago. de 2021
O maravilhoso cinema nacional! Começa aqui uma longa jornada através dos rostos que colocaram nosso cinema no mundo.
A CARA DO CINEMA BRASILEIRO é uma série especial de publicações do Portal Dossiê etc, escrita por Cleber Eldridge, sobre os atores que fazem o cinema nacional sobreviver, crescer e nos maravilhar com suas obras a cada dia. Dos medalhões, que foram do cinema para a TV, até as revelações não tão conhecidas do grande público, os rostinhos do cinema brasileiro desfilarão por aqui à partir de hoje e pelos próximos quatro sábados. Aproveite e se aventure pelo cinema nacional. Uma viagem inesquecível.
MEDALHÕES
O cinema no Brasil, assim como em tantos outros lugares do mundo, é feito de movimentos, desde os primórdios fomos divididos em fases, desde as chanchadas, boca do lixo, o novo e a retomada, tudo isso ideia de diretores, produtores e roteiristas dispostos a construir e fortalecer o cinema nacional, mas como qualquer leigo sabe, o que dá liga entre uma ideia e a emoção, são os atores.
As chanchadas foram muito populares no Brasil entre as décadas de 1930 até 1960, um gênero que não é conhecido do nosso grande público – falta de interesse, talvez? – mas que, colocaram Grande Otelo e Oscarito entre nós – já as pornochanchadas, vieram logo após, entre os anos 60 e 70, um gênero majoritariamente brasileiro que tinha cunho erótico e foi onde muitos dos nossos atores começaram sua carreira, como as cultuadas Sônia Braga em Lua Sobre o Parador (Paul Mazursky, 1.988) e Vera Fisher em Amor Estranho Amor, (Walter Hugo Khouri, 1972).
Os atores protagonizaram muitos dos filmes, o que serviu como porta de entrada para uma carreira sem fim na televisão. Como é Boa Nossa Empregada (Victor di Mello e Ismar Porto, 1973) tinha como protagonista Pedro Paulo Rangel. Outro clássico, Das Tripas Coração (Ana Carolina, 1982) colocou nas telonas um quarteto que faria sucesso durante muitos anos, especialmente na telinha, eram eles: Antônio Fagundes, Dina Staf, Ney Latorraca & Christiane Torloni. Já Carla Camurati, que fez nome no gênero, protagonizou um dos filmes mais complexos da época – e de título muito atraente, diga-se de passagem – Os Bons Tempos Voltaram, Vamos Gozar Outra Vez (Ivan Cardoso e John Herbert, 1985).
O Boca de Lixo ou Cinema Marginal, foi um outro movimento brasileiro, que surgiu em São Paulo na década de 60 e o filme que, verdadeiramente, representa esse gênero é O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968) – mas foi durante esse movimento que surgiu José Mojica Marins, o infame Zé do Caixão, com o clássico Essa Noite Encarnarei o Teu Cadáver (José Mojica Marins, 1967) – mas quem brilhou mesmo foram as atrizes que, mesmo com os produtores pedindo nudez gratuita, encaravam como trabalho sério e talvez, apenas talvez, por conta disso, elas tenham sido eternizadas: Helena Ramos, Zilda Mayo, Claudete Joubert, Matilde Ribeiro entre tantas outras. Já entre os homes alguns nomes foram importantes e muito presentes nessa época como Nuno Leal Maia, Tarcísio Meira e Jofre Soares.
O Cinema Novo foi o movimento mais emblemático e reconhecido no mundo, especialmente por conta da premiada trilogia de ouro, mas que não contavam com grandes nomes no elenco, mas ainda assim, tem uma importância sem precedentes. São os filmes Vidas Secas (Nelson Pereira dos Santos, 1963), Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964) um dos maiores clássicos do nosso cinema e que foi protagonizado por Geraldo Del e Yoná Magalhães; e Os Fuzis (Ruy Guerra, 1964). Todos os três mesclavam entre realidade e documentário e se passavam no sertão. Já nas grandes cidades A Falecida (Leon Hirszman, 1965) é mais celebrado por conta de sua protagonista, ninguém menos que: Fernanda Montenegro.
ESTRELAS
O fato é um só, ninguém vive de cinema no Brasil, isso falando tanto de atores, diretores, roteiristas e produtores, todos eles precisam mesclar suas carreiras entre o cinema e a televisão, a telona e a telinha, mas alguns deles ficaram mais conhecidos por se destacarem exatamente no cinema.
O primeiro e, na minha humilde opinião, o melhor deles é Irandhir Santos, que fez poucos trabalhos na televisão e está sempre focado em cinema, o ator já venceu o Festival de Gramado e de Havana e está sempre ligado em filmes independentes como Tatuagem (Hilton Lacerda, 2013) e O Som ao Redor (Kleber Mendonça filho, 2012).
Lázaro Ramos é outro ator que tem diversos trabalho na televisão, mas podemos incluir ele aqui já que ele foi a cara de filmes que caíram no gosto do público como O Homem que Copiava (Jorge Furtado, 2003)0, Ò Paí, Ò (Monique Gardenberg, 2007) e Madame Satã (Karim Aïnouz, 2002).
O meu preferido, Selton Mello, também tem carreira na televisão, mas nos últimos anos, ele tem focado no cinema e como diretor. Mello faz sucesso desde a clássica adaptação da obra de Ariano Suassuna, O Auto da Compadecida (Guel Arraes, 2000), passando pelo ótimo O Cheiro do Ralo (Heitor Dhalia, 2006) até O Palhaço (Selton Mello, 2011) e O Filme Da Minha Vida (Selton Mello, 2017), filmes em que acumulou direção e atuação.
O queridinho do público e de boa parte da crítica é Wagner Moura e não é para menos, já que ele protagonizou uma das maiores produções do cinema nacional Tropa de Elite (José Padilha, 2007). Moura tem alternado entre projetos nacionais e sua carreira internacional com Elysium (Neill Blomkamp, 2013), Wasp Network (Olivier Assayas, 2019) e agora sua estreia como diretor (roteirista e produtor) em Marighela (Wagner Moura, 2019), exibido pela primeira vez no Festival de Cinema de Berlim, seu lançamento nos cinemas é aguardado para novembro de 2021 e com a chegada do lançamento, a polêmica envolve a estreia de Moura como diretor, principalmente por retratar Marighella, um guerrilheiro brasileiro que integrou a resistência armada contra a ditadura.
Por fim, mas não menos importante, Rodrigo Santoro, que ator de longa data na TV, foi notado pelo mundo após duas atuações muito elogiada em Bicho de Sete Cabeças (Laís Bodanzky, 2000) e Carandiru (Héctor Babenco, 2003) somado ao sucesso que fez no folhetim de Manoel Carlos, Mulheres Apaixonados (2003), ele investiu na carreira internacional e funcionou: As Panteras, 300, Che e Bem Hur são apenas alguns dos filmes em que Santoro brilhou, depois de despontar aqui, no cinema nacional.
As mulheres não ficam atrás, Alice Braga é uma das atrizes brasileiras mais conhecidas lá fora, mas protagonizou algumas produções dirigidas por cineastas brasileiros como Cidade de Deus (Fernando Meirelles e Kátia Lund, 2002) e Ensaio Sobre a Cegueira (Fernando Meirelles, 2008) e Na Estrada (2013), de Walter Salles.
Dira Paes é uma atriz consolidada na televisão, mas que, assim como Lázaro Ramos, pode falar com propriedade de cinema já que atua desde 1985 quando debutou em A Floresta de Esmeraldas (John Boorman, 1985) e no cinema nacional em Ele, o Boto (Walter Lima Jr.,1987) e não parou mais. Só para mencionar alguns, dentre a lista de sucessos estão Amarelo Manga (Claudio Assis, 2002), Meu Tio Matou Um Cara (Jorge Furtado, 2004), 2 Filhos de Francisco (Breno Silveira, 2005) e Divino Amor (Gabriel Mascaro, 2019).
Leandra Leal também já deixou claro que prefere trabalhar com cinema e quando faz isso, faz miséria e quem não viu O Lobo Atras da Porta (Fernando Coimbra, 2013) não sabe o que está perdendo.
REVELAÇÕES
As caras novas não cansam de pipocar, alguns deles até vingam, outros nem tanto, o melhor exemplo disso é Rodrigo Garcia, a Paulete do filme Tatuagem (Hilton Lacerda, 2013), que foi premiado no Festival do Rio de Janeiro, mas não fez nenhum outro filme e focou na televisão, mas só para deixar claro, ele é um dos melhores atores dos últimos anos.
Gabriel Leone também começou nas telenovelas, mas segue caminhos diferentes, atualmente com a série Dom (Prime Vídeo), ele brilhou em Piedade (Cláudio Assis, 2019) e Minha Fama de Mau (Lui Farias e Alonquel Uchôa, 2019) aliás, Chay Suede também é um nome para ficarmos de olho, já sabemos o quanto ele é bom na televisão, só precisa de uma força para engrenar no cinema, mas em Rasga Coração (Jorge Furtado, 2018), ele está ótimo.
O melhor que surgiu nos últimos anos foi João Pedro Zappa, que protagonizou o excepcional Gabriel e a Montanha (Fellipe Gamarano Barbosa, 2017) e Boa Sorte (Carolina Jabor, 2014).
Jesuíta Barbosa – mais conhecido como sonho da gente – transita como poucos entre o cinema e a televisão, Barbosa tem uma magnitude diferente de tantos outros Tatuagem, Serra Pelada (Heitor Dhália, 2013) e Praia do Futuro (Karim Aïnouz, 2014) são a prova da versatilidade do ator.
Johnny Massaro também é um nome para ficar do olho, tal qual, Bruna Linzmeyer, que juntos já protagonizaram A Frente Fria que a Chuva Traz (Neville d'Almeida, 2015), O Filme Da Minha Vida (Selton Mello, 2017) e Alice & Só (Daniel Lieff, 2020).
As meninas seguem o mesmo barco, Laura Neiva anda meio “sumida”, mas sua ótima atuação em Á Deriva (Heitor Dhalia, 2009) me diz que muitas outras ótimas surpresas podem vir dela.
Nanda Costa, a queridinha das novelas desde sua protagonista em Salve Jorge (Marcos Schechtman, 2015), tem tentado apagar a fama que novela te deu e tem conseguido, especialmente com filmes como Gonzaga: De Pai Para Filho (Breno Silveira, 2012) e Entre Irmãs (Breno Silveira, 2017) que estrela ao lado de Marjorie Estiano outra atriz que já deixou sua marca na Telona com sua ótima atuação em As Boas Maneiras (Juliana Rojas e Marco Dutra, 2017).
O cinema brasileiro é muito maior e mais diverso do que podemos imaginar, filmes para todos os gostos e atuações memoráveis, no próximo capítulo vamos lembrar os personagens que fizeram história nas telonas do Brasil.
Comments